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Dança
Adaptação da Criança Pré Escolar nas aulas de dança
Para a maioria, essa aula é sua primeira experiência fora do núcleo familiar, portanto um momento muito importante para sua formação. Primeiramente, precisamos lembrar que, são as experiências que constroem a aprendizagem, e esta pode ser significativa ou negativa, impactando na formação da criança. Conhecer o desenvolvimento infantil, torna-se fundamental para o acolhimento destas bailarinas nas aulas de dança. Outro fator do qual deve-se ter conhecimento é do papel e das relações que a criança tem com a mãe. A mãe é uma peça chave para a adaptação da criança. Mas é preciso também entender os sentimentos da mãe neste novo processo da criança e ajudá-la a lidar com isso pois uma mãe segura passará esta segurança para sua bailarina.
Piaget dividiu o desenvolvimento humano em estágios, e do nascimento até os 2 anos mais ou menos, a criança encontra-se no estágio, denominado por ele, de sensório – motor. Isso significa, que toda a exploração de mundo que a criança faz, se dá por suas sensações e movimentos, sabendo disso, proporcionar atividades e “desafios” de exploração do ambiente, com materiais concretos, caminhos, almofadas, túneis, colchonetes, arcos, etc, vão chamar a atenção da criança para a exploração do ambiente e do movimento. No segundo estágio, denominado de pré operatório, que vai dos 2 até os 7 anos mais ou menos, inicia-se o desenvolvimento da linguagem, que é uma das formas de abstração, então precisamos lincar a linguagem, com o concreto, para que a criança comece a simbolizar, pois simbolizar significa que uma coisa pode estar no lugar da outra representando-a, e o espelho, de acordo com Lacan, vai nos ajudar nessa interpretação de mundo.
O professor de dança, precisa acolher cada aluno, desde a sua chegada. É importante, desde o primeiro contato, colocar-se na altura da criança para falar com ela, pois além de estabelecer contato visual, o professor aproxima-se de seu tamanho e o cérebro “primitivo” entende que a sua presença não é uma ameaça, a partir do momento em que o professor se coloca em uma posição física de “vulnerabilidade”.
Entender também sobre os objetos transitórios, de que fala Winnicott (discípulo de Freud), é importantíssimo, pois através de um objeto transitório a criança traz uma representação de algo familiar ou de algo que lhe dá segurança e aos poucos consegue fazer essa separação do ambiente familiar, adaptando-se à aula de dança.
A aula precisa ser o mais atrativa possível e adequada para a faixa etária, o faz de conta, a abstração ainda não estão desenvolvidos, portanto quanto mais concreta esta aula for, melhor, por exemplo, numa atividade onde todas vão ser princesas, se for fornecido uma coroa para cada uma, fica mais fácil da criança se colocar no papel da princesa. O professor e a aula de dança precisam ser mais interessantes, do que a mãe ou quem esteja do lado de fora da sala. Ele precisa colocar-se como o adulto referência na sala de aula, logo toda a necessidade da criança na sala de aula deve ser atendida pelo professor. Se desamarra uma sapatilha, é papel do professor amarra-la, pois assim a criança vai entendendo que aquela figura, também o acolhe, também cuida dele, também lhe passa segurança, e o vínculo professor-aluno vai se estabelecendo.
A ansiedade de todos precisa ser controlada e conduzida. A ansiedade dos pais, que querem ver as crianças dançando, que muitas vezes projetam os seus sonhos de bailarinas nas crianças, podem ser conduzidos pelo professor, à medida que se explique para esta família, que cada criança tem um tempo de adaptação, então a comparação precisa ser feita da criança com ela mesmo, nos seus avanços, mesmo que aparentemente sejam pequenos são grandes conquistas, e não com as outras crianças; que a adaptação na aula de dança pode levar mais tempo do que a adaptação na escola, porque o tempo de permanência na aula de dança assim como a frequência semanal é menor do que a da escola. A ansiedade do professor, de ver uma turma “disciplinada” onde todas esperam pela sua vez de fazer o exercício, também precisa ser aliviada, pois nessa fase o cérebro da criança ainda está desenvolvendo as funções executivas de controle inibitório por exemplo, então cabe ao professor lançar estratégias, novamente com recursos concretos, com atividades coletivas para que as crianças comecem a trabalhar as funções executivas. E ansiedade das crianças, de explorar aquele novo ambiente, deve ser administrada pelo professor a fim de conduzir essa exploração com um bom planejamento de aula e estratégias adequadas à faixa etária.
Uma criança adaptada e feliz em uma aula de dança, ganhará não só os conhecimentos da “técnica” de dança, mas o desenvolvimento de habilidades que utilizará em todos os âmbitos da sua vida!